Scorsese e a sua provocação para desacelerarmos e mais um Grande Clássico comentado
Ainda não superamos a estreia de Assassinos da Lua das Flores e falamos mais sobre Scorsese que explicam porquê ele é o maior cineasta de todos os tempos. E tem coluna Grandes Clássicos.
💡 Olá
A semana começa triste pela notícia de sábado com a morte de Matthew Perry. Não consegui montar nada de especial, então apenas compartilho um link com algumas das suas cenas mais engraçadas em Friends. E recomendo também uma chance a Studio 60, série escondida em seu catálogo criada por Aaron Sorkin e que é excelente. Pena que durou apenas uma temporada.
Também nessa edição falo mais um pouco sobre Martin Scorsese, porque ainda estou impactado por Assassinos da Lua das Flores e continuo assistindo todas as suas entrevistas - são mais aulas do que entrevistas, na verdade.
Na seção Grandes Clássicos, o escolhido foi Oldboy. O film retornou aos cinemas restaurado por conta dos vinte anos do lançamento. Continua espetacular.
Boa leitura!
Cinema
Na era da informação rápida, Scorsese nos provoca a desacelerar e pensar
Já faz quase duas semanas que Martin Scorsese, aos 80 anos, lançou o seu recente filme Assassinos da Lua das Flores (leia aqui a resenha), um épico de mais de 3h que faz jus à trágica história dos Osage mas também ao cinema clássico que ele tanto é apaixonado.
Em tempos de franquias e grandes produções que se dividem em duas partes para ter mais bilheteria, Scorsese é um dos poucos diretores capaz de levar um grande público aos cinemas em razão do seu nome. E para surpresa de muita gente: não é uma audiência velha.
Os dados divulgados nas primeiras semanas de exibição de Assassinos da Lua das Flores revelam que o público majoritário nas salas esteve entre 18 e 34 anos.
Isso me faz refletir sobre a lacuna no mercado cinematográfico hoje, preenchida somente em anos com filmes de um Martin Scorsese, Michael Mann (Ferrari), Christopher Nolan (Oppenheimer), Ava DuVernay (Origin) ou David Fincher (O Assassino). Para nossa alegria todos esses grandes artistas lançam novos trabalhos nesse ano.
Nessa era da informação, de tudo entregue rápido e mastigado, diretores como os citados acima trazem filmes que nos provocam a desacelerar um pouco, mas também a pensar e refletir sobre o que assiste. Somente assim uma plateia é conscientizada, não é mesmo? E desenvolve pensamento crítico sobre o que está à nossa volta.
Nada contra filmes da Marvel ou DC, mas não consigo me reconhecer ali. Acompanhando as mais variadas participações de Scorsese em diversos programas nas últimas semanas divulgando seu novo filme, me fez perceber o quanto é bom ter ainda alguém como ele causando esse tipo de burburinho.
E encontrando uma nova audiência interessada em seu filme que, com certeza, fará com que se procure o restante da sua obra. E vai descobrir filmes tão lindos e profundos quanto Assassinos da Lua das Flores.
Grandes Clássicos
Chocante e perturbador, Oldboy é um pesadelo
Oldboy não é aquele típico filme que prepara a audiência para o tipo de história que vai assistir. Se você nunca assistiu, é bem possível que já tenha ouvido falar. E com certeza tudo o que mais falaram foi sobre Oldboy ser muito violento. Mas reduzir o filme dirigido por Park Chan-wook a somente isso é um erro.
O centro da narrativa de Oldboy, baseado no mangá escrito por Garon Tsuchiya e ilustrado por Nobuaki Minegishi, se concentra na trajetória de vingança de Oh Dae-su (Choi Min-sik), um homem comum que é aprisionado por um motivo que desconhece e solto 15 anos depois também sem saber o porquê de ter sido libertado.
Entretanto, a profundidade emocional do filme não está necessariamente na violência. Oldboy é mais sobre a jornada de autoconhecimento de Dae-su o qual, em razão dos quinze anos preso secretamemte, nutriu um sentimento de raiva que ele precisa expurgar ao mesmo tempo que tenta compreender quem fez e o porquê de ter feito.
Apesar disso, as sequências violentas se tornaram clássicas. A mais emblemática delas é quando Dae-su enfrenta uma gangue num corredor com apenas um martelo, filmado em um plano sequência lindamente executado pelo diretor Park Chan-wook.
Mais sutil do que as cenas violentas, é a provocação de Park ao nos colocar na cabeça de Dae-su. Porque o enredo de Oldboy não é completamente claro ou sequer aparece pronto no filme.
Vamos descobrindo à medida que Dae-su também conecta os pontos, o que nos faz sentir a sua mesma angústia, representada por uma jornada torta que ele não sabe contra quem vingar ou o que vingar.
Esse é, aliás, o elo principal da chamada Trilogia da Vingança que Park Chan-wook criou. Oldboy é o filme que está entre Mr. Vingança (2022) e Lady Vingança (2005). As tramas são soltas entre eles, mas essa sensação de confusão permanece em cada personagem que Park acompanha.
Até que essa confusão, no caso de Oldboy, leva a uma sequência brutal que são os últimos 30 minutos do filme, numa reviravolta que explode as nossas cabeças. Dae-su chega a implorar pela morte, o que torna a jornada dos personagens de Oldboy trágicas desde o primeiro momento que os conhecemos.
Há uma fala no filme que sempre fica na minha cabeça, quando um dos personagens fala que “procurar vingança é a melhor cura para aqueles que foram machucados”. Isso me faz pensar em outro filme, O Segredo dos seus Olhos (2009), quando a raiva causada pelo senso de injustiça leva um dos personagens ao extremo e se vingar ele mesmo.
Vivemos em um mundo onde a raiva se espalha pela sociedade e, com ela, o desejo por vingança.
Basta ver guerras recentes ou os conflitos que envolvem policiais e traficantes que, por último, vitimam pessoas inocentes (em ambos os casos, em guerras no Oriente Médio e no Leste Europeu, ou nas comunidades das grandes cidades).
Isso me leva a dizer que poucos filmes atuais conseguem entregar o nível de experiência que Oldboy provoca, de surpreender e causar desconforto ao mesmo tempo que é sufocante, do início ao fim.
Próximo Filme: Faça a Coisa Certa, de Spike Lee.
📦 Recomendações da Semana
Martin Scorsese revolucionou o uso da música no cinema logo quando fez a sua estreia como diretor no inesquecível Caminhos Perigosos. Como você sabe, o mestre está quase numa turnê de divulgação de Assassinos da Lua das Flores. O mais recente foi no programa de Zane Lowe, na Apple Music, no qual ele discutiu sobre esse recente trabalho mas falou também como a música influencia suas escolhas e suas criações.
Matthew Perry, o eterno Chandler de Friends, foi encontrado morto no último sábado. A notícia pegou todo mundo de surpresa. Sim, a gente sabe dos problemas que ele enfrentava com o vício em álcool, mas aparentemente ele estava em uma fase boa e até com alguns projetos encaminhados em Hollywood para atuar em um novo filme. Nesse vídeo, por mais que seja difícil montar uma lista como essa, tem uma sequência das cenas mais engraçadas de Chandler em Friends. Particularmente, gosto muito do trabalho dele na série Studio 60. Pena que essa não durou muito tempo.
Se você chegou até aqui, muito obrigado pela leitura! Até semana que vem!