O fim de "Succession" e uma novidade
Resenhamos o final inesquecível da série da HBO Max que movimentou a internet na última semana. E fizemos um anúncio!
💡 Olá
A semana foi tomada pela expectativa do último episódio de Succession. A série teve um impacto importante em nós, inclusive para o renascimento do Sob a Minha Lente. Porque foi no episódio três, aquela obra-prima, que bateu novamente a vontade de escrever. E o fim correspondeu, foi brilhante!
Teve ainda final de Barry. Eu tinha me preparado para escrever, havia escrito aqui mesmo sobre a minha esperança, com três episódios exibidos, de que a série terminaria em sua melhor forma. Tudo por água abaixo: há tempos eu não assistia um final de seriado tão ruim, tão frio e sem nada para dizer. Uma pena.
Outra série que finalizou foi A Maravilhosa Mrs. Maisel, mas tratarei sobre ela em uma outra edição. E nessa semana, na quarta-feira (1º de junho), tem o final de Ted Lasso. É como se agora a televisão experimentasse uma entressafra de produções. E tomara que venha um período tão criativo quanto foi este.
Nessa edição, que é a última do mês de maio, apresento uma novidade: a coluna Grandes Clássicos. Nela, traremos sempre um filme para ser comentado na última edição de cada mês. E ainda tem a lista dos vencedores no Festival de Cannes.
Espero que gostem. Boa leitura!
📺 Séries
Succession tem final devastador em mais um episódio brilhante da última temporada
A brincadeira de tentar bancar o CEO acabou. Succession exibiu seu último episódio no último domingo, na HBO Max. Como não poderia deixar de ser, é um capítulo que captura a dor de uma família destroçada por tantas referências ruins. Porque, no fim, o coração da série está nas relações familiares. E esta sofre um abalo sísmico cuja recuperação nunca saberemos se será ou não possível.
[SPOILERS A PARTIR DAQUI]
Ao chegar finalmente no último episódio que decreta um desfecho para essa fábula satírica e profundamente triste, Succession encontrou a maneira perfeita de colocar os irmãos Kendall (Jeremy Strong), Shiv (Sarah Snook) e Roman (Kieran Culkin, espetacular) em uma encruzilhada: seremos unidos para sempre ou essa relação acaba agora.
Há uma disputa até o fim para saber quem vai controlar e ser o CEO efetivo da Waystar Rocco após a morte repentina de Logan (Brian Cox). Os acordos pareciam certos, houve até uma celebração (ao modo dos irmãos) para comemorar esse entendimento.
Mas na hora do “vamos ver”, Succcession nos obriga a testemunhar, de forma dolorosa, a quebra desse acordo e, por consequência, o vazio da relação afetiva que os irmãos uma vez tiveram.
Cada um responde de uma forma com essa decisão. Para Roman, um alívio. Para Shiv, uma chance de continuar orbitando o poder e, quem sabe um dia, chegar lá e sentar na cadeira que foi do pai. Mas, para Ken, uma nova decepção.
A mesma que ele havia sentido na primeira temporada da série. E talvez a mais devastadora de todas, ao ver não só Tom (Matthew Mcfadyen, em temporada digna de prêmios) emergir como novo CEO mas, principalmente, por dessa vez a traição vir dos seus irmãos.
Em torno dessa brutal reviravolta para Kendall, impressiona como Succession plantou esse desfecho ao longo do episódio. Tudo se conecta ao elemento da água e seu simbolismo que remete ao estado mental desse personagem, pontuada pelo acidente que culminou em morte na primeira temporada até a tentativa de suicídio na terceira.
Quando os irmãos fazem o acordo que deixaria o controle da empresa nas mãos dele, esse compromisso é firmado enquanto nadam. Isso se revela mais tarde como uma pista da tragédia que aconteceria, porque água e Kendall não foram feitos um para o outro.
Nessa terapia de família a céu aberto, ninguém saiu vencendo. Somente o público, brindado com uma série que entra agora para o panteão das grandes séries já exibidas na televisão.
🎞 Cinema
Cannes divulga os vencedores e Palma de Ouro vai para diretora francesa
Ao longo das últimas duas semanas comentamos aqui o que estava acontecendo no Festival de Cannes, o principal evento cinematográfico do ano e a meca dos grandes festivais de cinema. O sonho de um dia pisar na Croisette e assistir um filme no Palais permanece.
No último sábado (27), o júri presidido por Ruben Ostlund divulgou os vencedores (lista completa mais abaixo). A Palma de Ouro de Melhor Filme foi para Anatomy of a Fall, da diretora francesa Justine Triet.
Triet se torna, assim, apenas a terceira mulher a vencer o grande prêmio do festival. Ela se junta a Jane Campion (O Piano) e Julia Ducournau (Titane).
A narrativa de Anatomy of a Fall (adquirido pela Diamond Filmes para distribuição, mas ainda sem data de lançamento no Brasil) acompanha uma escritora alemã acusada de assassinar o marido, morto em circunstâncias duvidosas, e sua jornada para provar inocência.
Importante também destacar os prêmios entregues para The Zone of Interest (uma espécie de 2º lugar com o Grande Prêmio do Júri), do diretor Jonathan Glazer. Comentamos sobre o filme na última edição e ele aparecia entre os favoritos até para vencer a Palma de Ouro.
O Prêmio do Júri foi para Fallen Leaves, do diretor finlandês Aki Kaurismäki (O Outro Lado da Esperança). E o filme novo de Kore-eda, Monster, não saiu de mãos vazias, tendo conquistado o prêmio de Melhor Roteiro, para Yûji Sakamoto.
Confira a lista dos vencedores abaixo:
Palma de Ouro: Anatomy of a Fall, dirigido por Justine Triet
Grande Prêmio do Júri: The Zone of Interest, dirigido por Jonathan Glazer
Melhor Diretor: Tranh Anh Hung, por The Pot-au-Feu
Prêmio do Júri: Fallen Leaves, dirigido por Aki Kaurismaki
Melhor Roteiro: Yuji Sakamoto, por Monster
Melhor Atriz: Merve Dizdar, por About Dry Grasses
Melhor Ator: Koji Yakusho, por Perfect Days
Câmera de Ouro: Inside the Yellow Cocoon Shell, dirigido por Thien An Pham
Palma de Ouro de Curta-Metragem: 27, dirigido por Flóra Anna Buda
Menção Especial: Far, dirigido por Gunnur Martinsdottir Schluter
🎞 Cinema
Depois de Horas (1985) é o flerte de Martin Scorsese com a comédia
Paul Hackett, o personagem vivido por Griffin Dunne, só quer viver. É o que ele repete algumas vezes já no avançar do tempo de Depois de Horas (1985), disponível para aluguel (R$ 9,90) nas plataformas de streaming, quando ele se encontra cansado da noite que está tendo.
A história acompanha Paul, o qual segue uma vida comum de altos e baixos, com frustrações aqui e ali. Ele conhece Marcy (Rosanna Arquete) e, por acaso, os dois marcam de se encontrar à noite. A partir desse encontro a vida de Paul é colocada de pernas para o ar.
Dirigido por Martin Scorsese, que recebeu a Palma de Ouro em Cannes de Melhor Diretor em 1985 por esse filme, é importante pontuar que Depois de Horas não é um projeto pessoal seu.
Enquanto vivia a decepção de ter a filmagem de A Última Tentação de Cristo cancelada pela Paramount, o diretor queria fazer qualquer coisa, para salvar sua carreira, que provasse o fato dele entregar filmes de maneira rápida, simples e objetiva.
Por isso, Depois de Horas é um exercício de estilo cinematográfico cuja narrativa não se prende à trama com início, meio, fim e reviravoltas ao longo dessa trajetória.
Essa abordagem abre espaço para Scorsese explorar os elementos que marcam a sua filmografia: a utilização do espelho como um reflexo à câmera sobre o julgamento que o personagem faz de si mesmo, o tom vermelho que aparece como alerta de perigo e a fumaça a qual funciona como representação do mundo sujo o qual essas pessoas habitam.
Então, enquanto Paul vive a experiência da pior noite da sua vida após o encontro fracassar, aí começam os perrengues para voltar para casa e, depois, ainda passar a ser acusado (injustamente) de ser o ladrão que vem praticando roubos no bairro e apavorando seus moradores.
O que leva à cena mais emblemática de Depois de Horas quando ele se vira para o céu em sua tentativa de dialogar com Deus, e a câmera de Scorsese sob esse ponto de vista, para questionar o que ele fez de errado e o porquê de estar passando por isso.
Depois de Horas é um filme nervoso, pulsante, mas também um desabafo. Só que, ao invés de apresentar um trabalho pesado e melodramático, o caminho escolhido foi a comédia. Um riso cômico na cara dos grandes estúdios que pensam saber tudo mas não entendem nada.
Próximo Filme: Memórias de um Assassino, de Bong Joon-ho.
📦 Recomendações da Semana
Na esteira do último episódio de Succession, um dos elementos que permanecerão com a gente é a trilha sonora criada pelo compositor Nicholas Britell (Moonlight). Nesse vídeo ele explica o seu processo criativo para criar uma música-tema que capturasse a essência do que significam o poder e a riqueza.
A revista americana Time listou neste ano apenas dez pessoas como “líderes da próxima geração”. E o brasileiro Renê Silva é uma delas. Aos 28 anos, o jornalista carioca é o criador da Voz das Comunidades, que começou como um jornal sobre o Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e hoje é uma ONG com 35 funcionários, que trata também de política, esporte, cultura e educação.
A Netflix começou nessa semana a cobrança por cada usuário adicional no compartilhamento de senha à conta principal do serviço de streaming, estabelecendo uma taxa adicional de R$ 12,90 para cada usuário. A empresa explica que a conta Netflix deve ser usada por uma única residência e que todos que moram nela podem desfrutar do serviço. Não faltaram memes calculando os novos valores, que podem chegar até R$ 94,60 se você assina a Netflix quatro telas e compartilha com mais três pessoas.
A indústria do entretenimento está dando um baile na indústria da propaganda. E não sou eu quem afirmo isso, mas sim a diretora de Criação Executiva na Energy BBDO Chicago, Andrea Siqueira. Nesse artigo ela dá exemplos de como storytellings impecáveis e entretenimento 360 estão integrando muito mais o cross-marketing do que em qualquer outro segmento.
Até semana que vem!