Indiana Jones e O Chamado do Destino questiona o tempo em última aventura
Público desfruta mais uma aventura de Indy, mas é Phoebe Waller-Bridge quem acaba roubando a cena e trazendo o frescor que a franquia precisava.
💡 Olá
Voltei a uma sala de cinema depois de muitos, muitos meses. Me recordo que a última experiência que eu tive no cinema foi em Licorice Pizza. A memória não me permite lembrar se assisti algum filme depois desse. Era um filme de Paul Thomas Anderson, com trilha de Jonny Greenwood. Então, me lembro bem.
Dessa vez assisti Indiana Jones. É tão bom ir ao cinema, aquela experiência de entrar na sala, sentar na poltrona, assistir os trailers (não foram exibidos dessa vez). Parece mágico, como bem Spielberg traduziu em Os Fabelmans.
Mas também se tornou uma experiência cara, então é sobre isso que essa edição trata: da experiência de assistir um filme, como Indiana Jones, aos custos elevados que precisam ser levados em consideração.
Além disso, resgatei um texto antigo (que foi atualizado) com dez indicações de séries para assistir se você assina o Prime Video da Amazon.
Boa leitura!
Cinema
Indiana Jones e O Chamado do Destino questiona o tempo em última aventura
Tudo ao redor de Indiana Jones e O Chamado do Destino, na quinta e potencial última aventura, grita para ele o quanto está ultrapassado. Não é para menos: enquanto dá uma aula de Arqueologia que parece tediosa para quem acompanha, do lado de fora da sala há uma grande celebração pelo retorno dos astronautas americanos que viajaram ao espaço e pisaram na Lua pela primeira vez.
Mas essa é uma aventura de Indiana Jones e, apesar de tudo ao redor pintar essa tela, há momentos em que a experiência é mais importante como na sequência em que ele conserta o motor de um veículo, nos momentos em que ele acha os caminhos mais rápidos do que os vilões e, por fim, nas leituras e interpretações dos enigmas que surgem no caminho.
Por isso mesmo, há espaço de sobra para boas sequências de ação, referências aos filmes anteriores da franquia (sem muita nostalgia) e uma “caça ao tesouro” que, novamente, explora os limites do tempo com a possibilidade de voltar a ele e viver de outra forma. Bem, esse talvez seria o sonho de qualquer bilionário megalomaníaco. Por isso é bom ver Indiana Jones trazendo essas conexões com a realidade, para deixar a trama mais próxima do nosso tempo.
Afinal, é bom que se diga: o personagem vivido por Harrison Ford está aí desde os anos 80. Mas os inimigos continuam sendo os mesmos, com outras roupagens mas os mesmos conceitos.
Então, vermos a versão jovem de Indy brigando com os nazistas em uma longa sequência na abertura do filme, nos faz perceber que o tempo foi cruel com a humanidade, pois ainda hoje somos obrigados a condenar o nazismo enquanto uma determinada parcela da sociedade insiste em trazê-lo à luz.
Enquanto Harrison Ford mais uma vez mostra competência no papel, e James Mangold não compromete mas também não tenta fazer uma aventura “spielberguiana”, quem realmente rouba a atenção é Phoebe Waller-Bridge (Fleabag), como Helena, sobrinha de Indy e uma mercenária no mercado de antiguidades que traz o frescor que a aventura precisava.
O sentimento ao fim da sessão pode ser dividido: às vezes é repetitivo e algumas sequências poderiam ser encurtadas, o que pouparia na duração final do filme. No fim, é divertido sem ser espetacular.
Mas sair do cinema assoviando a composição-tema de John Williams, e com a sensação de ter passado boas três horas na sala, é uma experiência que poderá ser a última com esse personagem.
Cinema
Assistir um filme no cinema atualmente é sobre quanto se está disposto a gastar
Anos atrás, ainda na minha adolescência, pedi a meu pai um dinheiro para ir ao cinema — numa época em que eu assistia dois a três filmes por semana — e meu pai, sem nenhuma noção do custo de qualquer coisa, me deu R$ 10. Com meia-entrada, até era possível. Mas eu também tinha que pagar o transporte e queria algum lanche. Refutei e ele me deu R$ 20.
Hoje, sair de casa com R$ 20 para ir ao cinema é inviável - mesmo com meia entrada. Já tinha uma ideia de que os ingressos estavam caros, como tudo no país, mas isso ficou mais real ao marcar para assistir Indiana Jones e O Chamado do Destino.
Mais do que nunca é preciso fazer conta e escolhas, pois o entretenimento se transformou também em um investimento. Não é mais um dinheiro que se gasta pela diversão. É preciso colocar na ponta do lápis tudo que envolve e se, ao final, haverá retorno.
Tomando a realidade de Salvador onde moro, ingressos para dois adultos em uma sessão de sexta-feira custa R$ 28/cada - nem estou considerando as salas gourmet. Adicione mais R$ 50, caso você queira uma pipoca (não gosto dentro do cinema, mas o público em geral consome).
Só aí se vão quase R$ 100 para desfrutar desta experiência. Não me entenda mal: nada supera assistir um filme na sala de cinema. Não há distrações, é como estar imerso em outra dimensão.
Mas nessas situações, com ingressos caros e a possibilidade de se tornarem ainda mais inacessíveis uma vez que nos Estados Unidos as empresas estão testando modelos em que ingressos para poltronas no meio custam um valor e outras posicionadas nas laterais custam outro, a única opção é escolher com cuidado os filmes que se pretende assistir.
Agora não vamos ao cinema por qualquer filme que esteja em exibição. Largar o conforto do sofá de casa e se deslocar até algum shopping, pagar estacionamento e ingressos custando tão alto, começa a valer a pena somente em situações especiais, isto é, em filmes que realmente devem ser assistidos em uma grande tela e compartilhando a experiência com outras pessoas.
Mudando de estratégia
A inflação alta faz com que todo mundo escolha opções mais econômicas de diversão. E isso afastou o público do cinema, que já havia sofrido consequências desse movimento nos tempos de COVID-19.
Para reconquistar o público, ou fazê-lo reaproximar da experiência de ir ao cinema, as principais redes que operam no Brasil adotaram estratégias como assinatura mensal e pacotes de tíquetes mais baratos. É implementar o sistema de recorrência que as plataformas de streaming operam e que, por algum tempo, foi inovador e deu certo. Agora, já dá sinais de fadiga.
A rede Cinemark, por exemplo, a qual representa cerca de 30% do mercado brasileiro segundo dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) divulgados em 2022, lançou no ano passado o Cinemark Club, um programa de assinatura que oferece descontos, prêmios e ingressos a clientes por meio do pagamento de uma mensalidade.
Segundo a empresa, é uma economia que representa 50% em relação ao preço original. Com R$ 29,90/mês o consumidor tem direito a dois ingressos para sessões 2D, que podem ser usados em qualquer dia da semana.
Problema não é só no Brasil
Mas essa não é uma questão que afeta apenas as redes de cinemas do Brasil. Nos Estados Unidos, a indústria de Hollywood vê esse verão com grande preocupação. Filmes que deveriam atrair multidões e alavancar as operações como The Flash (Warner/DC) e Elemental (Disney/Pixar) tiveram resultados aquém do esperado no primeiro final de semana de exibição.
Expectativa era que Flash pudesse fazer US$ 500 a US$ 600 milhões globalmente. Mas a curva do público entre o primeiro e o segundo fim de semana caiu drasticamente (72,5%), segundo pior declínio (atrás apenas de Morbius) para uma produção de super-herói. Já Elemental abriu a estreia com US$ 29,6 milhões, a pior de uma produção da Pixar.
Tudo isso significa, para os especialistas, que a receita da temporada pode não atingir os níveis pré-pandêmicos de US$ 4 bilhões como se havia previsto, o que coloca ainda mais pressão para que filmes como Missão: Impossível - Acerto de Contas, Parte 1, Barbie, Oppenheimer e Indiana Jones e O Chamado do Destino recuperem algum terreno.
Isso não significa, porém, que o cinema vai morrer (calma!). As redes precisarão se reinventar, buscar alternativas em outros eventos como peças teatrais, espetáculos musicais, eventos esportivos ou campanhas promocionais em estreias para expandir a audiência - enquanto também a própria indústria se recupera dos atrasos provocados nas grandes produções em razão da pandemia.
Séries
10 séries da Amazon Prime Video para assistir
A gente sabe que a Netflix no Brasil é bastante popular e que praticamente toda semana estreia alguma coisa nova e que nos deixa com vontade de assistir. Porém, ultimamente temos prestado muita atenção ao catálogo do Prime Video, cuja curadoria tem revelado mais acertos do que a sua rival e disponibilizado séries de enorme prestígio, de público e de crítica. Alguns programas estão lá quase escondidos e é por isso que resolvemos catar eles e apresentar dez séries imperdíveis deste catálogo:
Mozart in the Jungle
Apesar de ter sido descontinuada na 4ª temporada, a jornada da série é espetacular. A orquestra de Nova York serve de pano de fundo para uma história de amor pela música. Engraçada, divertida, cheia de altos e pouquíssimos baixos. Vale muito a pena começar.
The Office
Para quem vai assistir a série pela primeira vez pode ser difícil passar pelos primeiros episódios com brincadeiras machistas e preconceituosas, mas ainda no final da primeira temporada você já vai estar amando The Office.
30 rock
Tina Fey usou os seus anos de trabalho escrevendo os roteiros do Saturday Night Live (SNL) e atuando nos sketches para criar uma versão cômica de como é colocar no ar um programa desse tipo. As sete temporadas estão disponíveis na Amazon e o início pode não agradar muito, mas depois de alguns episódios entendendo o sarcástico humor de Tina Fey, 30 Rock vicia rápido.
Mr Robot
A série que catapultou a carreira de Rami Malek, e do seu desconhecido criador Sam Esmail, estreou na TV americana sem barulho nenhum até que os primeiros episódios revelaram que se tratava de algo fresco em meio a um número cada vez mais excessivo de produções sendo lançadas todo ano. Mesmo não mantendo a qualidade da 1ª temporada, Mr. Robot é uma série que merece atenção.
The Marvelous Mrs Maisel
O retorno de Amy Sherman-Paladino se deu com a já premiada The Marvelous Mrs Maisel. A série conta a história de uma performer de stand-up enfrentando as dificuldades de ser engraçada e mãe solteira nos anos 50. A primeira temporada é para esquentar os motores, mas a segunda já é perfeita. E a partir daí o nível só cresce. A série terminou recentemente (comentamos com mais detalhes nesta edição), então já dá para maratonar do início ao fim.
Seinfeld
Trinta anos nas costas e ainda uma série amada pelo público, Seinfeld ajudou as pessoas a adorarem as sitcoms, que deixou de ser um gênero B para se transformar em produções que hoje são vistas como essenciais. Quem poderia imaginar que histórias do cotidiano dariam tanto certo na TV? Jerry Seinfeld e Larry David sabiam que era, na realidade, tudo que o público mais gostaria de assistir, que é justamente se ver na tela.
Mad Men
A produção que marcou a nova era da TV após The Sopranos, a trama acompanha o cotidiano de publicitários da Madison Avenue e que trabalha vendendo a conquista do sonho americano, para clientes e consumidores. Banhada em muito uísque e cigarro, representa um marco cultural e é uma das melhores séries da última década.
This is Us
Se você gosta de uma história leve e de chorar aqui e ali, This is Us é a série perfeita. Mesmo tendo enjoado com o passar das temporadas, pois a trama não consegue evoluir, a história da família Pearson é embalada de mensagens positivas e não há como deixar de emocionar. Um grande novelão americano, mas divertido.
Fleabag
A segunda temporada de Fleabag ganhou todos os prêmios possíveis e isso só reforça a reputação de Melhor Série da última década. Fleabag é uma dramédia sobre uma mulher que aos 30 está ainda aprendendo a lidar com as inconsistências da vida. Sem mais, assista.
Modern Love
Baseada na coluna de mesmo nome do New York Times, Modern Love é uma série antológica que extrai histórias sobre o amor experimentado das mais variadas formas. Os episódios trazem conforto, aquecem o coração. Tudo o que se precisa em noites frias de inverno.
📦 Recomendações da Semana
Tem várias bandas se reunindo para tocarem juntos novamente e saírem em turnê. Blur, Pulp, The Walkmen e por aí vai. Esta reportagem entrevista vários profissionais envolvidos na cadeia de shows para tentar decifrar “por que tantas bandas antes adormecidas acordaram para fazer turnês pelo mundo”. Há várias razões, uma delas: por causa das redes sociais, muitas bandas ficaram bem mais populares do que na época em que estavam ativas.
Podcasts eram a bola da vez (parece que a onda agora são videocasts) e algumas empresas de mídia começaram a abandonar o barco. Na contramão disso, a produtora Plan B, fundada por Brad Pitt, criou uma recente divisão de áudio para criação de séries nesse formato em parceria com a Audible. Objetivo é aumentar o escopo de atuação da Plan B, recentemente adquirida pela francesa Mediawan, a qual está tentando expandir as operações para conteúdo de língua inglesa.
O filme Barbie não será exibido no Vietnã. Isso por conta de uma cena envolvendo um mapa chinês mostra divisão territorial reivindicada desde os anos 1940 pela China, mas não reconhecida internacionalmente. Esse artigo do jornal Nexo traz a informação, enquanto que a revista americana Variety mostrou que um tribunal de resolução de disputas da ONU em Haia decidiu por unanimidade em 2016 contra a validade da “linha de nove traços”, mas a China não reconhece a decisão.
Até semana que vem!