Final da 6ª temporada de Black Mirror, Grandes Clássicos e um estudo sobre Indiana Jones
Cinemas se preparam para receber uma última aventura de Indiana Jones vivido pelo icônico Harrison Ford.
Olá
Toda edição é um desafio, de pensar nas pautas e compreender o quanto será viável escrever considerando a janela curta de tempo. Dá um alívio quando programamos a newsletter para chegar à caixa de entrada de tantas pessoas. E confesso que esta edição, em particular, é uma das que mais sinto orgulho.
Importante avisar que as nossas redes sociais (Instagram) também voltaram com mais força, pilotadas por Larissa Seixas.
Além disso, teremos alguns conteúdos bem especiais no mês de julho. A gente não vê a hora de lançar. Aguardem!
Enquanto isso, boa leitura!
Séries
Segunda parte da 6ª temporada de Black Mirror usa o terror como elemento principal
Não foi exatamente pensado, mas sinto que fiz o certo ao dividir as resenhas da 6ª temporada de Black Mirror em duas partes. É que os dois últimos episódios, “Mazey Day” e “Demon 79” se caracterizam mais pelo terror do que os três capítulos comentados na edição da semana passada (leia aqui se você perdeu).
“Mazey Day”, por exemplo, retrata a cultura da celebridade sob o ponto de vista dos paparazzi, sedentos e indo até as últimas consequências por uma foto que pague o trabalho do dia, mas também da própria estrela que às vezes vê a carreira arruinada por causa de um clique.
A narrativa, porém, vai se transformando em suspense e termina em um banho de sangue similar ao do filme Um Drink no Inferno (1996), dirigido por Robert Rodriguez.
A diferença é que no longa-metragem o inesperado ganha o efeito convincente que merece, enquanto aqui é usado apenas como um suporte na tentativa de deixar a história mais chocante, com mais appeal para um público que tem preguiça de pensar e quer pular para a ação.
Já “Demon 79” é um retorno de Black Mirror às origens no sentido visual e estético, pois o episódio como um todo homenageia o terror dos anos 70-80 (Hitchcock lembrado até na trilha sonora) e parece saído da cena independente de baixo-orçamento.
Interessante escolher “Demon 79” para encerrar a temporada, alias, porque ele não utiliza nenhuma âncora futurista. A ideia aqui é justamente provar o quanto a série cresceu em termos de abordagem e de histórias, mostrando que pode ir além sem comprometer o conceito.
Cinema
Como Indiana Jones se transformou em uma das franquias mais adoradas do cinema
Com estreia marcada para o dia 30 de junho, Indiana Jones e o Chamado do Destino marca o quinto e último filme da franquia com o ator Harrison Ford interpretando um dos personagens mais icônicos da história do cinema. Todo ícone, porém, tem uma história por trás. Como Indiana Jones, então, se transformou em uma das franquias mais adoradas e respeitadas?
Imaginado por George Lucas (Star Wars), as histórias e aventuras do arqueólogo que realiza façanhas dignas de um filme de James Bond começou em 1981, com o lançamento de Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida. A partir dali e com três longas-metragens lançados, o personagem já teve histórias adaptadas para série de televisão, histórias em quadrinhos, videogames e outras tantas mídias.
Assim, não demorou muito para Indy se tornar uma das figuras mais reconhecidas após o sucesso do primeiro filme, que se consolidou no ano de lançamento como a produção de maior bilheteria. O sucesso provocou automaticamente que o trio, Harrison Ford, George Lucas e Steven Spielberg, fizesse mais dois filmes.
Em Indiana Jones, o público se depara com um outro tipo de herói, um que tem profundo respeito pelo conhecimento (professor universitário de arqueologia), comete erros e tem medos reais (lembra das sequências envolvendo cobras?). Claro que isso encanta, mas nada supera o carisma de Harrison Ford e o que ele trouxe para o personagem.
Logo, o estalo do chicote, o chapéu, o figurino característico se transformaram em marcas lembrada e celebrada pelo público.
Ao chegar agora no quinto filme e que representa uma despedida, mais uma para Harrison Ford que recentemente também se despediu de Han Solo, o público sabe que Indiana Jones é um desses personagens que jamais será esquecido. Suas aventuras, as clássicas sequências de perseguição e as tiradas de humor, já garantiram a atemporalidade necessária para a franquia continuar sendo encontrada por novas audiências ao longo do tempo.
Grandes Clássicos
Memórias de um Assassino (2003) é menos sobre o caso e mais sobre os traumas
Sempre que revejo Memórias de um Assassino, dirigido pelo cineasta sul-coreano Bong Joon-ho (Parasita), a sequência de abertura permanece na minha cabeça por muito tempo. É nela que reside o peso e significado da narrativa, quando o detetive Park Doo-man (Song Kang-ho) se encaminha à cena de um homicídio.
A perspectiva, porém, não está no olhar de Park, mas sim no de uma criança que vive na região. Ao enxergarmos toda a cena pelos seus olhos, Bong Joon-ho traça um paralelo inteligente e objetivo ao revelar de antemão a perda de inocência, ao testemunhar a imagem do corpo desfigurado de uma mulher, e que simboliza toda uma nação em clima de tensão por conta do regime autoritário da época.
A narrativa de Memórias de um Assassino acompanha a trama verídica de dois detetives, Park e Seo Tae-yoon (Kim Sang-kyung), tentando prender um serial killer que aterroriza uma província rural da Coreia do Sul entre 1986-1991. Park é um residente local, enquanto Tae-yoon é um policial destacado da capital Seul para ajudar no caso.
Em uma das primeiras interações, o detetive residente pergunta se o da capital já havia visto algo assim, ao que Tae-yoon é categórico: não, nunca.
Essa inexperiência é usada por Bong Joon-ho no filme ao mostrar como eles batem a cabeça durante as investigações, na tentativa de solucionar o crime rapidamente, e até quando a dupla faz um ritual xamanístico na cena de um dos crimes, na tentativa de revelar a identidade do assassino. Como eles não conseguem levantar pistas, os policiais abusam verbalmente e torturam potenciais suspeitos.
Bong Joon-ho se destaca
Nesse sentido, Memórias de um Assassino assume o papel de um longa-metragem procedural ao mostrar os detetives seguindo e perdendo pistas, interrogando suspeitos e buscando estratégias para encontrar o criminoso.
No entanto, isso não impede Bong Joon-ho de explorar o filme visualmente, do campo aberto e cores vivas da sequência inicial até a escuridão, fortes chuvas e uma mata esverdeada que sucinta medo, apreensão e serve de elementos para anunciar perigo no iminente ataque às mulheres vítimas.
Quanto mais crimes acontecem mais os policias vão se entregando à loucura e frustração. É nesse caos que o trabalho de Bong como diretor aparece ainda mais, revelando um controle absurdo ao saber exatamente quais são suas intenções com o filme, de como essa traumática experiência define o curso de uma geração afetada por ela.
Isso fica cristalino na cena final em que Park, agora um ex-policial, está viajando como vendedor, de volta à região, e decide retornar à cena do primeiro crime muitos anos depois. Ele encontra uma nova criança. O diálogo que acontece é assustador, no qual a garotinha diz que outra pessoa também esteve ali semanas atrás olhando para a mesma vala. Park pergunta como era essa pessoa. E a criança responde: “ordinário, comum”.
Ao encarar a câmera como se estivesse olhando em nossos olhos, o desespero de Park é compartilhado com o público: nunca conhecemos profundamente quem está do nosso lado. Pode ser uma pessoa comum e que, por debaixo disso, é um serial killer, um estuprador. Nos damos conta que assassinos, ou pessoas ruins de qualquer natureza, habitam ao nosso redor e pensar nisso é apavorante.
Próximo filme: Terra Estrangeira, de Daniela Thomas e Walter Salles.
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Pegou de surpresa na última semana o movimento da HBO, por meio do conglomerado Warner Bros. Discovery, de estar negociando licenciar algumas séries para serem também adicionadas à Netflix. O Deadline detalhou o plano e destacou que este é um movimento financeiro. Entende-se que os programas devem ser distribuídos de forma não exclusiva, o que ainda permitiria que eles fossem transmitidos no Max.
Até semana que vem!