Christopher Nolan volta à boa forma em Oppenheimer
Após alguns filmes meia-boca, digamos assim, o diretor volta a exibir uma produção digna da sua melhor fase no início dos anos 2000.
💡 Olá
Tivemos a primeira experiência em IMAX ao assistir Oppenheimer no cinema. É unica, confessamos. A vibração do som, a tela gigante, as cores vivas, a razão de aspecto que preenche tudo o que você enxerga com tamanha nitidez e precisão. Absurdo, realmente!
Sobre o filme em si, também bom. Não é espetacular ou a obra mais importante do século como alguns dizem por aí, como se quisessem aumentar a importância para convencer mais pessoas a irem assistir. Uma tentativa válida, mas é preciso estar mesmo com vontade de mergulhar no filme que, antecipamos, é indigesto.
Além de comentarmos sobre Oppenheimer, fizemos uma lista que estávamos ansiosos em compartilhar ranqueando todos os filmes de Christopher Nolan do melhor ao pior. Faça aí também a sua e compartilhe com a gente.
Boa leitura!
Cinema
Christopher Nolan volta à boa forma em Oppenheimer
A tensão de Oppenheimer é tão grande que a narrativa causa enjoo, misturada com apreensão e culmina em ansiedade gerada pela incerteza. O filme nos faz dar conta de que vivemos à sombra do poder de destruição que a arma que o físico Oppenheimer (interpretado pelo ótimo Cillian Murphy), conhecido como o pai da bomba atômica, ajudou a criar e capaz de destruir toda a existência do mundo.
Se você está se perguntando porquê fazer um filme sobre Oppenheimer, as respostas são encontradas no filme. Nolan oferece uma crítica moral bem construída, que vez ou outra pode esbarrar na sua própria mania de tornar tudo muito grandioso, mas é efetivo em seu propósito de mostrar a crueza por trás de uma criação científica tão perversa. Como realmente Oppenheimer discute no filme, o mundo se moldou completamente a partir disso.
O diretor traz essa complexidade que Oppenheimer é, seu conflito de desenvolver uma arma que ninguém sabia o tamanho do seu poder de destruição, mas compreendiam se tratar de um divisor de águas na corrida armamentista. Algumas vezes, Oppenheimer se torna exaustivo em meio a uma montagem que é elaborada demais quando poderia ser mais objetiva.
Ao mesmo tempo, a trilha sonora de Hans Zimmer Ludwig Göransson confere a tensão que a abordagem de Nolan necessita, se fundindo com o design de som para emular sons radioativos ou ao exibir perturbações da própria mente de seu protagonista.
Paralelo a isso, a narrativa de Christopher Nolan é um grande quebra-cabeça movido a jogo político e ambição. A guerra retratada nele funciona como um trampolim para personagens continuarem escalando na hierarquia e ocuparem cargos de destaque. A política revela o lado frio das decisões, seja de começar o Projeto Manhattan, e passa pela escolha de bombardeio às cidades, como se estivessem debatendo o que comer ou o que fazer em uma sexta à noite.
Em tudo isso, não poderia faltar as próprias contradições que Oppenheimer o tempo inteiro tenta enfrentar em seu interior. Isso se reflete quando Nolan nos faz sentir o que Oppenheimer está sentindo, como na cena em que ele discursa para toda a comunidade (que ele construiu) de Los Alamos, no meio do deserto americano, após os ataques bem-sucedidos em Hiroshima e Nagasaki, ou quando ele se sente acuado, exposto e Nolan o desnuda completamente.
Não há santos na história e Oppenheimer nos livra disso ao não perder tempo discutindo se os personagens sabiam o que estava fazendo ou não. Lógico que tinham conhecimento, movidos também pela possibilidade do inimigo estar mais avançado que eles no desenvolvimento de uma arma tão poderosa que poderia ser usada contra os Aliados (leia-se: EUA).
O filme, no final, não tenta justificar porque conhecemos a história: o ataque às cidades de Hiroshima e Nagasaki foi desnecessário, uma vez que o Japão estava prestes a se render. É uma demonstração de força. Oppenheimer percebe isso e advoca pelo uso limitado da arma nos anos seguintes à guerra.
Uma luta que o mundo trava até os dias de hoje, sem garantia de que algo similar não aconteça novamente.
(Errata 02/08/2023 — A trilha sonora não foi composta por Hans Zimmer, mas sim por Ludwig Göransson.
Cinema
Os filmes de Christopher Nolan, do melhor ao pior
Meu primeiro contato com um filme do diretor britânico Christopher Nolan foi em Amnésia, alugado em alguma locadora de Salvador após ter sido indicado pelo próprio dono.
A partir daí, o interesse foi apenas crescendo e atingiu o ápice com a Trilogia Batman. Nolan consegue, como poucos, embalar histórias complexas em blockbuster, levando multidões às salas de cinema.
E a experiência de assistir qualquer filme seu na grande tela é arrebatadora, em IMAX principalmente. Discuti a estética do diretor em uma newsletter recente (leia aqui) e agora, após ter assistido Oppenheimer, é hora de descobrir em que posição ele está em sua filmografia.
Confira abaixo:
Cavaleiro das Trevas (2008)
Continua sendo o meu filme favorito de Christopher Nolan. Em, o Cavaleiro das Trevas eleva as suas técnicas de filmagem que estabelecem a tensão necessária do filme, principalmente pelo vilão tão complexo e soberbamente interpretado por Heath Ledger. Por causa desse filme, as produções de super-heróis nunca mais foram as mesmas, ainda que poucas tenham conseguido atingir esse nível de exatidão.
O Grande Truque (2006)
Nolan continua dialogando com os mesmos temas de seus filmes anteriores, principalmente relacionado ao tempo. O mais interessante em O Grande Truque é que ele consegue implementar esses assuntos que mais o interessam tendo como pano de fundo uma história que captura, acompanhando dois mágicos e a rivalidade deles no final da Londres vitoriana. Além disso, O Grande Truque tem David Bowie, voltando a trabalhar como ator depois de muitos anos, interpretando Nikola Tesla. Filmaço!
Amnésia (2000)
Ao contrário do título, é impossível esquecer Amnésia. O frescor da montagem não-cronológica de Christopher Nolan nos leva a uma curiosidade em acompanhar a narrativa que só aumenta à mesma medida que o seu personagem principal tenta se lembrar dos acontecimentos - para isso, ele tatua as informações no próprio corpo. É como se ele estivesse vivendo na mesma dimensão de O Feitiço do Tempo. Há buracos no roteiro, já digo de antemão. Ainda assim, é entretenimento puro e de (muito) boa qualidade.A Origem (2010)
Quando assisti pela primeira vez no cinema, saí completamente fascinado pelo filme e, claro, pelo final aberto a discussão que o diretor propõe. À medida que fui revisitando, A Origem foi me parecendo mais superficial, com muita explicação e uma engenharia narrativa que é exaustiva em certos momentos. Algumas sequências de ação, no entanto, permanecem incríveis.
Batman Begins (2005)
Quem será que esperava que o reinicio de uma franquia como Batman iria apresentar um personagem tão sombrio, complexo e problemático? Ninguém, provavelmente. Mas se mostrou a decisão mais acertada para afastar Batman Begins de filmes horríveis como Batman Eternamente (1995) e Batman e Robin (1997, esse eu nem quero ver na minha frente). Nolan preenche a tela com um Bruce Wayne em busca da sua própria identidade e de propósito, em um filme que confronta seus grandes medos.
Dunkirk (2017)
Minha impressão é que boa parte da existência de Oppenheimer reside também no fato de Dunkirk existir. Nolan nesse filme eleva sua arte, uma vez que une sua ambição da história ser contada em múltiplas camadas de tempo ao mesmo tempo que subverte o que é um filme de guerra, como Terrence Malick certa vez o fez com Além da Linha Vermelha (1998). A diferença entre os dois é que Nolan não está tão interessado nos porquês da guerra e, ao não oferecer nenhuma backstory dos soldados que estão ali presos, trata todos como uma unidade que busca sobrevivência.
Oppenheimer (2023)
Como sempre acontece nos filmes de Nolan, ele ambienta bem a tensão à medida que a narrativa cresce. Mas aqui não seria tão necessário jogar tanto com os mistérios como se nos conduzisse por meio de um quebra-cabeça. Talvez se ele fosse mais objetivo o resultado seria ainda melhor - e a duração do filme, com certeza, menor.
Interstellar (2014)
A tentativa de Nolan em fazer um filme sobre astronautas viajando no espaço para encontrarem uma nova casa para a humanidade, já que a Terra está se tornando inabitável, resulta em um filme confuso e que às vezes beira a arrogância. As sequências filmadas por Nolan revelam a imensidão do espaço e o tanto que o desconhecemos, mas falta algum toque humano. Parece cerebral demais e a serviço de explicar buracos negros e outros termos do tipo, enquanto a emoção e os conflitos dos personagens são colocados em segundo plano.
Following (1998)
As técnicas de Nolan estão todas nesse primeiro trabalho como diretor. Mas há uma coragem em experimentar que ajuda também a catapultar a sua carreira e coloca seu nome no mainstream. É claro que a forma truncada da montagem nos obriga a perguntar em seus filmes se há sempre essa necessidade e se isso contribui para a narrativa. Em alguns casos, apenas se torna cansativo. O que não acontece aqui. Em razão do orçamento limitado, muitas cenas são filmadas com a câmera na mão e isso confere realismo à trama, a qual acompanha um personagem que segue outros na região central de Londres.
O Cavaleiro das Trevas: Ressurge (2012)
Há um enorme problema no filme que conclui a Trilogia de Batman: a primeira metade do filme é uma tentativa desesperada de descobrir qual é a história, o que está acontecendo e quais as motivações para tudo isso. Tem muita coisa sendo mostrada na tela, muitos personagens com objetivos próprios e uma Gotham à beira da destruição, no caos completo. Um filme difícil pelas cenas de tortura e violência provocadas por BaneInsomnia (2002)
Primeiro filme dirigido por Nolan logo após o sucesso de Amnésia, Insomnia é adaptado da produção norueguesa de mesmo nome, dirigida por Erik Skjoldbjaerg. Insomnia é um clássico policial, no qual dois detetives (Al Pacino e Martin Donovan) investigam o assassinato de uma adolescente em uma região remota do Alasca. Como o lugar é quase sempre dia, um dos conflitos do personagem é sofrer de insônia enquanto tenta limpar algumas bagunças da investigação que ele próprio criou.
Tenet (2020)
Esse é o pior filme da carreira de Nolan e o único que realmente tive dificuldade de chegar até o final. E quando se chega lá, você ainda se pergunta o que assistiu e como perdeu mais de duas horas do seu dia. Supostamente, deveria ser uma tentativa de Nolan criar um filme baseado em um dos seus gêneros favoritos, de espionagem. Mas a história não é interessante e o filme não é divertido em si. Tudo é grandioso em Tenet, até a própria ambição do diretor que, pela segunda vez em sua carreira, soa arrogante demais.
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Se você chegou até aqui, muito obrigado pela leitura! Até semana que vem!