Hijack, greve em Hollywood e a estética de Christopher Nolan
Semana foi caótica para Hollywood com a paralisação agora de atores e roteiristas. Além disso, comentamos sobre Hijack e lançamos o especial Grandes Diretores.
💡 Olá
Em Hollywood, a semana foi dominada pela paralisação dos Atores, que se soma à dos roteiristas, e toda a indústria basicamente parou. Pelos lados de cá, foram dias de continuar assistindo Mad Men (estamos na 3ª temporada), uma pausa estratégica em Snowfall e de acompanhar Hijack - após boas recomendações.
Sobre essa última, os elogios fazem sentido e vale a pena assistir a série. No texto abaixo, comentamos alguns deslizes mas que não impactam na diversão final. Boa para se jogar no sofá e perder o tempo assistindo.
Comentamos, lógico, sobre as paralisações em Hollywood, quais as produções que já começam a ser afetadas e os festivais de cinema do 2º semestre que também podem sofrer perdas.
Além disso, lançamos mais uma coluna especial nesta edição: Grandes Diretores. Ela sempre aparecerá em lançamentos de determinados filmes. Por enquanto, no formato de texto. Mas existe um desejo de extrapolarmos também no formato. O primeiro perfil que escrevemos é sobre Christopher Nolan e sua estética.
Boa leitura!
Séries
Hijack requenta formato de sucesso na TV e entrega boa diversão
Vez ou outra a televisão resgata o formato de sucesso da série 24 horas (2001-2010). A produção revolucionou a TV em 2001, logo após os eventos do 11 de setembro. Após nove temporadas, a série foi cancelada pela Fox. Spin-offs e filmes foram tentados posteriormente, mas estrearam sem sucesso. Agora é a vez de Hijack, série disponível no Apple TV+, requentar a forma de 24 horas. E para isso conta com o carisma de Idris Elba, similar ao Jack Bauer interpretado por Kiefer Sutherland na clássica série.
A trama desenvolvida por George Kay (responsável por Lupin, da Netflix) e dirigida por Jim Field Smith (Butter) retrata o sequestro de um avião que parte de Dubai com destino a Londres. A viagem dura sete horas e os episódios representam cada hora dessa jornada.
Um dos passageiros é Sam Nelson (Elba), um negociador habilidoso em operações de aquisições, que está enfrentando uma crise familiar e decide voltar à capital londrina.
Ao contrário de outras produções que tentaram parecer 24 horas, e falharam miseravelmente, Hijack é bem-sucedida nesse ponto ao escolher um formato no qual a trama se desenrola e encaixa perfeitamente. Isso se virarmos o olhar para outros problemas que, no final do dia, não comprometem a diversão que Hijack entrega.
Um deles é o fato da série não deixar claro o que os terroristas de fato querem com o sequestro. Esse mistério poderia servir bem à história, mas ele justamente atrapalha uma vez que outras ações acontecem no solo que parecem estar conectadas com o sequestro do voo - mas que nunca são bem explicadas.
Apesar de Idris Elba estar bem no papel, carismático como seu Stringer Bell em The Wire, o fato dele ser um negociador parece que o coloca à frente dos próprios terroristas, como se apenas ele soubesse tudo o que está prestes a acontecer enquanto os outros são estúpidos, bastando ser empático para convencê-los de tudo.
Mesmo com esses problemas, Hijack passa no teste e garante uma boa diversão. É interessante ver a trama se desenvolvendo dentro do avião, mesmo com inúmeros títulos que são ambientados nesse espaço. Em uma sequência, Sam usa o sistema de entretenimento da aeronave para se comunicar, em outra o piloto consegue emitir avisos mesmo sem dizer uma única palavra pelo rádio.
Em quatro episódios exibidos até o momento, toda semana a Apple TV+ lança em sua plataforma, Hijack prende a atenção com bom suspense e tensão que são praticamente obrigatórios em produções como esta. E conta com a ajuda de Idris Elba para segurar a série até o fim.
Cinema
Hollywood parou na pior greve da indústria em 60 anos
Na última semana Hollywood literalmente parou: após os roteiristas anunciarem greve, que começou em maio desse ano, agora foi a vez dos atores aderirem. Desde 1980 não acontecia uma paralisação de proporções enormes como essa - e a última vez que atores e roteiristas paralisaram juntos foi em 1960.
Naquele ano, os atores queriam maior participação nos lucros com a venda de programas e filmes feitos para a TV a cabo e fitas de vídeo (as clássicas VHS, lembram?). Os tempos mudaram, as demandas continuam as mesmas, mas agora contra novos players: a inteligência artificial e plataformas de streaming.
Os cinemas já estão preocupados: ainda que a plateia das próximas semanas esteja garantida com as estreias de Barbie, Oppenheimer e Missão: Impossível 8, caso a paralisação dure semanas como tem sido a de roteiristas, as redes poderão ficar sem nada para exibir.
Filmes como Deadpool 3, Os Caça-Fantasmas 4, Mufasa: O Rei Leão, Avatar 3 e 4, Beetlejuice 2 e o musical Wicked são algumas das produções afetadas logo de imediato.
Além disso, a greve também afeta a divulgação dos filmes. Na última semana, o tapete vermelho que aconteceria em Londres para promover a estreia de Oppenheimer foi cancelado de última hora, uma vez que os atores se recusaram a promover o filme em apoio à decisão do Sindicato (conhecido como SAG-AFTRA).
Em paralisações anteriores, tanto na década de 60 quanto na de 80, atores pararam de trabalhar por 6 semanas e roteiristas por vinte e uma. Aqui, segundo os jornalistas que estão acompanhando de perto, as negociações podem ser demoradas pois envolve muito mais empresas e outros formatos.
Festivais de cinema em apuros
A greve também tende a prejudicar os festivais de cinema programados para o 2º semestre, como Telluride, Nova York, Toronto, Tribeca e Venice. Há uma expectativa de que os festivais até sejam mantidos, mas sem a presença dos atores, o que é um balde de água fria na tentativa de gerar atenção para os filmes que são exibidos.
É uma greve que tem o apoio de grandes estrelas, sejam atores ou diretores. Eles passam uma mensagem clara de unidade contra os grandes estúdios, conglomerados de mídia e plataformas de streaming. É uma luta para que a indústria sobreviva e se torne melhor. Ao menos, é o que a gente espera.
Grandes Diretores
A estética de Christopher Nolan
Os filmes do diretor britânico Christopher Nolan são sempre super produções, com ambiciosas sequências de ação, desafiadora montagem e atenção aos mínimos detalhes que contarão e muito para a experiência imersiva que o diretor deseja provocar na audiência.
Mas existem elementos que evocam os tradicionais blockbusters de verão. E isso não será diferente em Oppenheimer, que estreia nos cinemas brasileiros na quinta-feira (20).
Nolan quase sempre está interessado em algumas questões filosóficas e riquezas temáticas que ajudam seus filmes a contarem uma boa história além do espetáculo visual.
Um chama atenção de imediato: a questão do tempo. É ele que conecta os variados mundos nos quais seus filmes estão ambientados.
O uso do passado, presente e futuro é uma forma básica de observar como ele usa esse elemento para formar um quebra-cabeças narrativo, onde diferentes partes do tempo se conectam a diferentes eventos e cenários.
Em Dunkirk, por exemplo, aparentemente a história parece seguir por uma linha linear. Nolan até nos coloca no front. Mas à medida que o filme avança percebemos que há três narrativas que ocorrem em lugares diferentes, em condições distintas e acontecem paralelamente.
A Origem é mais um exemplo, pois todo o conceito do filme está baseado no sonho dentro de um sonho, o que leva à criação de até cinco linhas de tempo diferentes que acontecem simultaneamente, no qual cada nível abaixo representa uma dificuldade maior, ou seja, um sono profundo que se revela também um perigo para os personagens.
Nolan vem modulando essa ideia desde os seus primeiros títulos, como Amnésia, no qual as tramas paralelas são separadas pelo tom de cor (uma em preto e branco monocromático enquanto a outra se desenvolve em cores), passando também por Interstellar e, por último, em Tenet.
Para fazer isso dar certo, Nolan conta com parceiros criativos que entendem a visão do que ele deseja transmitir no filme, das trilhas de Hans Zimmer que hoje se tornaram clássicas, ao uso das cores dos seus diretores de fotografia Wally Pfister ou Hoyte van Hoytema, às vezes optando por tons monocromáticos para não distrair a audiência, como em Batman; outras utilizando sobreposições de tons amarelos e azuis que revelam confusão e mistério, como A Origem e O Cavaleiro das Trevas, contrastes que sempre se materializam em seus longas-metragens.
Enquanto seus filmes ganharam grandes dimensões em termos de razão de aspecto, Nolan se prende ainda aos dramas pessoais e conflitos que parecem até pequenos habitando em cenários tão grandiosos. São eles, no entanto, que definem os personagens e a natureza deles.
No fim, é sobre se as histórias desses personagens irão encontrar ressonância na audiência. A julgar pelo sucesso dos seus filmes, ele tem conseguido atingir isso na maior parte das suas produções.
📦 Recomendações da Semana
Rock'n'roll, uma forma de arte criada por e para os jovens, existe desde a vida humana. Suas maiores estrelas já foram as personificações e premiados da juventude – e agora são velhos. Esse artigo do The Guardian passa pelos trabalhos recentes de Bruce Springsteen, Paul McCartney e Elton John. E como esses nomes moldaram gerações à medida que foram envelhecendo. É uma maravilha de texto!
Nessa semana também tem estreia de Barbie, uma das mais aguardadas do ano. Deixamos esse vídeo no qual a diretora, Greta Gerwig, lista mais de vinte filmes que serviram de inspiração para o mundo do filme e a narrativa.
Até semana que vem!