Série sobre fuga de Carlos Ghosn, a experiência de rever Mad Men e uma pequena pausa
Tiraremos umas semanas de férias para recarregarmos as energias. Novas edições serão retomadas em 26 de setembro.
💡 Olá
Como temos contado aqui em edições anteriores, estamos revendo Mad Men e há algumas semanas chegamos na quarta temporada - agora, quando escrevemos, estamos há dois episódios de finalizar.
E que ano espetacular, cheio de mudanças, conflitos, crises existenciais, rico mesmo em tanta coisa sendo explorada na tela. Não conseguimos nos conter: tivemos que escrever um pouco sobre essa experiência.
Isso até que chegou em uma boa hora, considerando que foi uma semana morna em termos de estreias nas plataformas de streaming e também nos cinemas.
Uma produção que estreou recente na Apple TV+ foi a série documental sobre o ex-CEO da Renault e Nissan, Carlos Ghosn. Como tínhamos assistido o longa-metragem documental da Netflix, aproveitamos a série para dar uma chance.
Tem mais detalhes, vale a investir o tempo se você gosta de acompanhar o ambiente de negócios, mas não empolga.
Aproveitando, temos um anúncio: estamos de férias e, por isso, não teremos edições nas próximas semanas. Retornaremos no dia 26 de setembro. Até lá!
Boa leitura!
Séries
Na Apple TV+, série documental narra ascensão e queda de Carlos Ghosn
Carlos Ghosn, ex-CEO da Renault e Nissan, era uma celebridade até meados de 2018. O executivo andava em paddock da Fórmula 1, fazia festa no palácio de Versailhes e estampava capas e mais capas das grandes revistas de negócios ao redor do mundo.
O sucesso tinha explicação: em poucos anos, ele conseguiu recuperar duas empresas do setor automotivo que estavam à beira da falência. Ao mesmo tempo, tinha muita gente incomodada com isso.
Procurado: A Fuga de Carlos Ghosn acompanha toda a ascensão de Ghosn e também a sua queda, quando foi preso no Japão no que pode ter sido uma armação criminosa para derrubá-lo e impedir uma fusão entre ambas as empresas.
Inspirada no livro “Boundless: The Rise, Fall and Escape of Carlos Ghosn”, escrito pelos jornalistas que acompanharam o desenrolar deste caso de perto, Nick Kostov e Sean McLain, a série da Apple TV+ é diferente e mais rica do que o longa-metragem da Netflix lançado em 2022, CEO em Fuga: A História de Carlos Ghosn.
Apesar de abordarem a mesma história, a produção da Apple TV+ traz entrevistas de novos personagens e relata, com mais detalhes, o proceso que culminou em sua prisão e o plano elaborado para sua fuga do Japão.
Um problema comum aos dois se dá nas tentativas de recriar eventos que estão sendo narrados pelos entrevistados. Não apenas são mal projetados, como também se tornam expositivos e se transformam em uma bengala para amparar uma série que facilmente poderia ser feita em dois episódios.
Outro problema de Fuga: A História de Carlos Ghosn, é que a série tenta fazer novas revelações mas nunca se preocupa em aprofundar ou mostrar o porquê de estar fazendo. O passado envolvendo o pai de Ghosn é um exemplo disso, jogada no terceiro episódio para ilustrar um perfil da personalidade de Ghosn que simplesmente não se sustenta.
O interessante mesmo está quando a série relata o plano de fuga, como as decisões foram tomadas e quais as artimanhas utilizadas para burlar a segurança japonesa - elementos onde a produção da Netflix peca, por exemplo. Os conflitos nesse momento aparecem, o documentário consegue estabelecer alguma tensão e relaciona isso também com o trabalho e cobertura dos jornalistas.
A sensação que dá é de que a série da Apple TV+ foi até onde era possível ir e esgotou o assunto. A fuga continua sendo cinematográfica. Só não inventem agora uma produção ficcional. Hollywood adora isso, mas nem mesmo a Inteligência Artificial se empolgaria em recontar essa história.
Séries
Revisitar Mad Men é entender como a série se transformou em um grande fenômeno cultural
“Quem é Don Draper” é a sentença que abre a quarta temporada de Mad Men, uma das mais complexas e bem elaboradas de toda a série. A pergunta é feita por um jornalista a Don Draper, que começa a suar frio sem saber o que ou como responder. Ele sai pela tangente, com a mesma habilidade de sedução que ele usa para se aproximar das mulheres com quem deseja ter alguma relação.
Querendo ou não, essa é a mesma pergunta que nós, espectadores, nos fazemos desde o início quando somos apresentados ao personagem vivido por Jon Hamm. Don, aparentemente, tem tudo (uma linda família, linda casa, lindos filhos, trabalho que paga bem), ao mesmo tempo que não tem nada.
É ainda mais claro perceber isso ao notar o vazio na sua vida na quarta temporada: recém-separado de Betty, longe dos filhos, morando em um apartamento escuro e pequeno no centro de Nova York e não mais na comodidade do subúrbio, trabalho em uma agência completamente reformulada e, cada vez mais, se entregando à bebida e às mulheres (qualquer uma que aparecer).
Nem mesmo o sucesso é capaz de consolar Don. Assim, a quarta temporada é uma montanha-russa de emoções para o protagonista, provocada por essas grandes mudanças. Aliás, isso se reflete também na experiência que se tem ao assistir cada episódio, pois é imprevisível compreender a direção que Mad Men pretende tomar, uma vez que a série como a conhecíamos nas três temporadas anteriores simplesmente não existe mais.
Mad Men mostra Don, e seus principais personagens, mais frágeis e em crises existenciais, se questionando o lugar deles no mundo - pessoalmente e profissionalmente. Por isso a quarta temporada é tão rica, resultando em um pacote de grandes episódios.
Um deles é “The Suitcase”, focado na relação de Don com seu passado e como ele é forçado a enfrentar isso. O capítulo se destaca pelo equilíbrio entre o desespero de Draper de ver uma importante parte da sua vida indo embora e outra que reside na sua habilidade de criar campanhas e histórias para os clientes - neste caso, um anúncio para a Samsonite que ele e Peggy precisam inventar.
A quarta temporada é o trampolim para Mad Men mergulhar ainda mais no estudo de personagem que é Don Draper. Um recomeço que tira a audiência e os personagens do lugar comum para desbravar novos territórios, conflitos e enriquecer uma trama que nunca foi simplória - mesmo quando o objetivo era apenas narrar o cotidiano dos publicitários que povoavam as agências na Madison Avenue.
No fim, Mad Men entrega uma das melhores temporadas. E não apenas da série, mas também da televisão moderna.
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Os cinco maiores apresentadores noturnos dos Estados Unidos (Stephen Colbert, Jimmy Fallon, Jimmy Kimmel, Seth Myers e John Oliver) fizeram uma reunião inédita e gravaram um podcast. Strike Force Five, disponível no Spotify, terá todo os lucros voltados para apoiar a greve dos roteiristas, a qual já dura cinco meses. O podcast é resultado de uma série de encontros que eles tiveram conversando sobre maneiras para apoiarem seus roteiristas. No primeiro já teve uma bomba, quando Jimmy Kimmel dispara que estava considerando se aposentar. Toda semana sai um novo episódio.
Se você chegou até aqui, muito obrigado pela leitura! Até semana que vem!