Por que o Festival de Cannes é tão importante?
A 76ª edição do evento começa no dia 16 de maio. A maratona inclui novos filmes de prestigiados autores. Mas tem muita coisa além da Mostra Competitiva.
📝 Olá
Na edição dessa semana o destaque é o Festival de Cannes, que começa no dia 16 de maio (exatamente uma semana, se você estiver lendo essa newsletter no dia que enviamos, terça-feira). Cannes sempre esteve no meu imaginário, desde o primeiro momento que me descobri cinéfilo e comecei a estudar, pesquisar a indústria. É o festival mais relevante e o que normalmente rende as principais histórias que serão lembradas para a temporada de premiações.
Outro tema desta edição é o Dia das Mães, já no próximo domingo. Sendo minha mãe uma grande viciada em filmes, séries e responsável por me influenciar a ser também, perguntei à ela quais são os cinco filmes e cinco séries que ela mais gosta. Minha mãe nunca teve nenhum compromisso além de se divertir assistindo alguma coisa.
Mas quis fazer essa homenagem porque, normalmente, fazemos listas de filmes para assistir com as mães ou sobre mães para homenagear no dia, mas quantos de nós já tivemos essa curiosidade de saber os filmes que elas mais gostam? Nunca tinha me ocorrido perguntar isso, até que tive um estalo quando comecei a pensar o que eu poderia fazer de diferente para essa data.
Boa leitura!
🎞 Cinema
Por que o Festival de Cannes é tão importante?
Considerado um dos “três grandes” festivais de cinema, ao lado de Veneza e Berlim, o Festival de Cinema de Cannes começa no dia 17 de maio. Os olhos da indústria cinematográfica se voltam para o evento, onde exibirá filmes de Martin Scorsese, Wes Anderson, Hirokazu Kore-eda, Ken Loach, Alice Rohrwacher, Jessica Hausner, dentre tantos outros autores.
O prêmio cobiçado é a Palma de Ouro e a chance de catapultar uma produção para a temporada de premiações que se inicia no segundo semestre. Uma corrida que mais do que o glamour da condecoração, é a chance da indústria também resgatar no público o desejo de ir ao cinema nesses tempos de streaming e tudo ao alcance de uma assinatura e uma SmarTV.
Mas por que exatamente o festival é tão importante e um dos mais prestigiados do mundo?
Em doze dias de festival, estrelas desfilam no tapete vermelho enquanto produtores, estúdios e distribuidores tenham fechar o máximo possível de negociações. É uma grande corrida, não só para os críticos que assistem a quatro ou cinco filmes por dia, selecionados para cobrirem o festival uma vez que o evento não é aberto ao público, mas também para os profissionais que atuam fora dos holofotes. Mas antes de chegar no formato que o festival tem hoje, importante contar um pouco da história bem rapidamente.
Originalmente lançado em 1938, pouco antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o festival foi apresentado pela primeira vez como um rival de Veneza, que havia sido usado como máquina de propaganda pelo Partido Fascista Italiano. A primeira edição viu as maiores estrelas de Hollywood serem transportadas para o Sul de França num Ocean Liner fretado pela MGM Studios, com Gary Cooper, Cary Grant, Norma Shearer, Spencer Tracy e James Cagney a bordo.
No entanto, foi cancelado apenas dois dias depois, após a invasão da Polônia pela Alemanha, com as potências do Eixo da França e do Reino Unido entrando em guerra. O festival de Cannes voltou em 1946, com a iteração atual sendo sua 76ª edição. Na década de 1960, viu atores da realeza como Brigitte Bardot, Sophia Loren e Elizabeth Taylor caminhando no famoso tapete vermelho de La Croisette, enquanto a realeza real, incluindo Diana, princesa de Gales, já compareceu. Ao longo dos anos, premiou tudo, desde Pulp Fiction até La Dolce Vita.
Mostras do Festival
Apenas alguns filmes são selecionados, normalmente trabalhos de diretores já consagrados ou mesmo prestigiados e que já tiveram outros títulos exibidos no evento. Pelo menos 20 filmes são indicados para a Mostra Competitiva. Estes concorrem ao grande prêmio: a Palma de Ouro. Além desta, outras mostras e eventos acontecem em paralelo:
Un Certain Regard: filmes que terão distribuição limitada nos cinemas, mas que apresentam estética e objetivos singulares, de cineastas que produzem o “cinema de autor”. Aqui é uma chance dessas obras ganharem algum reconhecimento internacional, o que podem ajudar no fechamento de alguma negociação para serem exibidos para a grande audiência depois.
Fora de Competição: filmes que o júri, o qual ainda não havia sido comentado mas que é escolhido pelo diretor artístico do festival, desejam reconhecer mas que não se encaixam na programação oficial. Nesse ano, por exemplo, há uma grande expectativa por Killers of the Flower Moon, novo filme de Martin Scorsese e o primeiro trabalho dele para a Apple TV+, que vai estrear no festival justamente fora de competição. Em anos anteriores já foram exibidos títulos como Drive, Bohemian Rhapsody e Rocketman - para os citar os mais recentes.
Cinéfondation: filmes para alunos atualmente matriculados na Escola de Cinema. As obras não podem exceder uma hora de duração.
Existem também Sessões Especiais, Sessões da Meia-Noite, Homenagens e outros eventos paralelos utilizados para chamar a atenção da indústria como um todo e, principalmente, da imprensa.
E então, por que Cannes é tão importante?
É possível responder a essa pergunta com dois elementos: exclusividade, pelo número limitado e cuidadosamente selecionado de filmes, e longevidade, longa história de estar no mapa da indústria. Ganhar a Palma de Ouro pode lançar carreiras ou consolidar outras. Só para citar, Cannes foi o responsável por lançar ao mainstream diretores como Quentin Tarantino e Steven Soderbergh.
Claro que também vencer não significa que o filme chegará a uma audiência de massa. Nem sempre é esse o objetivo, pois Cannes preza muito pela linguagem, pela estética e não exatamente se o filme será amplamente aceito. E isso tudo depende do que acontece na Marché du Film, outro evento importantíssimo que ocorre paralelamente ao principal. Cineastas que esperam encontrar financiamento e distribuidores em busca de maneiras para atraírem o público para filmes estrangeiros, artísticos e de outros nichos, aproveitam esses 10 dias para fazerem seus negócios mais importantes.
Por fim, voltando ao assunto exclusividade, o festival é voltado para a indústria ao contrário de festivais como Toronto e Sundance, em que ingressos para as sessões são comercializados para o grande público e, assim, qualquer pessoa pode comparecer. Não é o caso de Cannes. E isso explica o porquê de Cannes ter tanto prestígio e ser considerado, ano após ano, a meca do cinema mundial por praticamente duas semanas uma vez que as discussões e a receptividade de Cannes aos filmes exibidos moldarão o que assistiremos nos cinemas depois.
♥️ Dia das Mães
Filmes e Séries recomendados pela minha Mãe
Pedi uma lista curta de alguns filmes à minha mãe e ela mandava uma mensagem atrás da outra, cada uma era um filme diferente. Fiz uma escolha baseada naquilo que ela se lembrava e também com base no que mais tem assistido ultimamente. Minha mãe é dessas que assiste o mesmo filme várias e várias vezes. Só falhei em não tê-la feito gosta de Poderoso Chefão ou de algum filme do Scorsese. É a mesma resposta para ambos: “muito conversado, meu filho. Não tenho paciência, não".
Tudo o que eu sabia é que não poderia faltar 24 horas nessa lista e, claro, Yellowstone - além de todo o universo criado por Taylor Sheridan. Para a minha surpresa, minha mãe trouxe A Diplomata, série que recomendei mesmo sabendo que não fazia muito o seu estilo de série. Ela reclamou um pouco, disse que é muita conversada. Mas, no final, gostou bastante.
E essa foi a minha homenagem. Espero que ela goste! 😊
📦 Recomendações da Semana
Os roteiristas de Hollywood entraram em greve, a primeira em quinze anos. Esse artigo do Hollywood Reporter questiona se sentiremos algum impacto, como audiência. Os Late Shows foram os primeiros programas atingidos e estão sem exibições ao vivo desde o início da paralisação. Quanto às outras produções, talvez não enxergamos o impacto imediato. Muita coisa, porém, vai atrasar. A produção de Stranger Things, por exemplo, está comprometida e fora do cronograma por conta da greve.
Enquanto isso, os executivos de Hollywood tiveram ganhos de mais de US$ 1 bilhão ao mesmo tempo em que foram os responsáveis por uma massa onda de demissões que ocorreram na indústria hollywoodiana nos últimos meses, todas com desculpas de que estavam reestruturando os negócios. Mas há algo ainda mais urgente acontecendo: a crença desses executivos no uso de Inteligência Artificial (IA). Sim, eles acham que um robô vai criar um roteiro e que isso será a fundação de uma nova era, nos filmes e nas séries. Para que roteiristas, não é mesmo? Que futuro desastroso…
Mas há também o outro lado da indústria, na qual um produtor em especial está na contramão disso: Taylor Sheridan. Você já deve ter ouvido falar do “taylorverse”, não? Se não viu/ouviu/leu esse termo por aí ainda, aguarde as próximas edições dessa newsletter. Mas voltando ao tema: uma reportagem na última semana mostrou que a produção de Yellowstone, da Paramount, paga a Taylor Sheridan para uso de cavalos e aluguel do set de filmagens. Como o autor domina hoje os sucessos da empresa, é ele quem controla e influencia o orçamento dos seus projetos comerciais. E isso tem elevado os custos de produção para os mais elevados de Hollywood, chegando a bater blockbusters lançados por outros estúdios tradicionais.
Agora fico imaginando um robô tendo criar toda a árvore da Família Dutton…
Muito obrigado pela leitura. Até semana que vem!