Asteroid City prova que Wes Anderson também tem emoção
Considerado um dos filmes mais pessoais, novo trabalho do diretor chegou aos cinemas brasileiros na última semana.
💡 Olá
Nesta edição, comentamos sobre o mais recente filme do diretor Wes Anderson: Asteroid City. Esperamos ver sempre na tela elementos bem estilizados do diretor, mas é surpreendente como ele se permitiu ser mais pessoal neste filme em relação aos outros trabalhos lançados nos últimos anos.
Além de Asteroid City também destacamos a estreia da 3ª temporada de Only Murders in the Building, que começou a ser disponibilizada no streaming do Star+. Tem Meryl Streep, basta dizer isso — na verdade, gostamos muito da série e a presença da atriz é um motivo a mais, elevada a sei lá qual potência, para assistirmos.
Boa leitura!
Cinema
Asteroid City retrata questões existenciais que misturam arte e vida real
O novo filme do diretor Wes Anderson, Asteroid City, que estreou nos cinemas brasileiros na última semana, pode ser tudo menos sobre uma cidade que se chama “asteróide”. Na realidade, a história contada por Anderson se desenvolve em uma linha muito tênue no qual a vida imita a arte e vice-versa.
Por um lado, o filme oferece um olhar único ao modus operandi do diretor, aqui encapsulado por Conrad Earp (Edward Norton), um autor teatral famoso prestes a lançar seu novo e aguardado trabalho: Asteroid City.
Todo o processo criativo de Conrad Earp é descrito detalhadamente por um narrador (Bryan Cranston). Enquanto vemos a peça ser encenada, no qual todo o elenco estrelado de Wes Anderson brilha, há uma outra trama por trás com esses mesmos atores buscando o alcance da perfeição enquanto se perguntam se são bons para os papeis que ganharam -- alguns até questionam se estão de fato entendendo a história.
Como é de se esperar de um filme de Wes Anderson, há metalinguagens pairando na tela e movem a narrativa. O melhor exemplo é o protagonista, Augie Steenbeck (Jason Schwartzman), que na peça vive um fotógrafo de guerra esperando o momento mais seguro para contar aos seus filhos que a mãe deles faleceu - enquanto que, na vida real, ele é apresentado como um ator que pratica O Método e inseguro sobre sua própria performance.
Na peça em si, a estrela Midge Campbell (Scarlett Johansson) se aproxima da persona e estrelato de Marilyn Monroe, cuja ideia do diretor é representar nela as pressões sofridas por atrizes na indústria.
A partir daí, Asteroid City escancara diversas questões existenciais relacionadas ao que pensamos da vida, o qual pautam o texto de Anderson enquanto ele, mais uma vez, estiliza o filme com a sua estética tão fácil de reconhecer.
Essas discussões, no entanto, não passam despercebidas e estão lá emolduradas pela nossa ideia de existência de vida fora da Terra ou simplesmente pelos conflitos que cada geração vive: os personagens de Asteroid City, especificamente, vivem o ano de 1955 marcado pela Guerra Fria estabelecida e lançamentos de programas espaciais em resposta à União Soviética.
O sentimento exposto na tela por Anderson é real, e se aproxima da geração de hoje que não viveu a Guerra Fria mas que superou COVID-19 e quarentena forçada - apesar da linha ficcional que o diretor traça com a sua estética que nos remete à fábula e à ficção.
Asteroid City é o retrato de muitos personagens performando, como atores, personas que eles receberam a responsabilidade de apresentarem; mas também como humanos, interpretando a própria vida única e singular de cada um. Uma jogada que dá para assistir em alguns outros filmes, mas não com a mesma originalidade.
Séries
Only Murders in the Building ganha frescor com presença de Meryl Streep
O Star+ começou a exibir na última semana a terceira temporada de Only Murders in the Building. Em dois episódios divulgados, fica claro o frescor que a série ganhou ao adicionar Meryl Streep em seu elenco. O centro da narrativa é mais um caso de homicídio, mas logo de cara a série mostra a que veio com humor afiado e surpresas adicionam alta dose de expectativa pela temporada.
A última vez que Meryl Streep tinha aparecido em alguma série de TV foi na segunda temporada de Big Little Lies. Também ali ela foi responsável por levar o frescor à narrativa, interpretando uma personagem que estabelecia novos conflitos. Dá para dizer que o mesmo se repete em Only Murders in the Building, uma vez que Loretta é uma força que pode desestabilizar a relação dos personagens e ter papel fundamental no caso de homicídio.
Tentando não se transformar em uma série com fórmula pronta, tipo aqueles programas procedurais com o crime da semana, Only Murders in the Building toma um arriscado caminho nessa temporada ao ambientar a narrativa na Broadway e, com isso, adicionar novos elementos visuais e estéticos para justamente fugir do óbvio.
O mistério da vez tem bom potencial para ser ainda melhor do que foi nas temporadas anteriores, com mais reviravoltas surpreendentes e boa dose de humor.
Aliás, o elemento cômico da série ganhou não só a adição de Meryl Streep, ótima como sempre em seu timing de criar comédia mesmo quando seu personagem por fora é só melancolia, mas também com Paul Rudd - um tipo de humor diferente que o aproxima de um gênio incompreendido (por assim dizer).
Os próximos episódios serão um termômetro dos caminhos que Only Murders in the Building pretende seguir. Por ora, a temporada promete.
📦 Recomendações da Semana
Os grandes estúdios de Hollywood e as empresas de streaming apresentaram uma proposta para acabar com a greve dos roteiristas, iniciada em 2 de maio. Os dois principais pontos pedem mais transparência nos números de audiência nas plataformas e a garantia de creditar roteiros apenas a humanos, não a ferramentas de inteligência artificial.
Se você chegou até aqui, muito obrigado pela leitura! Até semana que vem!